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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis)


A soja (Glycine max (L.) Merril) foi introduzida no Brasil em 1882 pelo professor da Escola de Agronomia da Bahia, Gustavo Dutra. Desde a sua introdução, quando era utilizada como cultura forrageira, a soja vem demonstrando uma excelente cultura para o país. Ela é responsável por abrir a fronteira agrícola brasileira para a região dos cerrados, isto ocorrendo nas décadas de 80 e 90, quando a soja foi plantada pela primeira vez na região Oeste da Bahia. Na safra 1992/93 a área plantada era de 380.000 hectares, chegando a 1.600.000 hectares na safra 2017/18 (AIBA, 2019). Estimativas mostram uma evolução no rendimento da soja, saindo de 25,88 sc/ha, na safra 1992/93 para um patamar de 66 sc/ha, na safra 2017/18 (AIBA, 2019).

Devido a importância da soja para o país, e em especial para a região Oeste da Bahia, é imprescindível que sejam adotados o manejo correto da cultura, a fim de maximizar seus rendimentos, bem como, perpetuar seu cultivo ao longo dos anos. Para que isso seja colocado em prática, devemos ter conhecimento detalhado das principais pragas e doenças da cultura da soja, bem como, as melhores formas de controle.

Como a Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), é uma das pragas mais frequentes e severas da cultura, farei uma breve explanação sobre a praga.

O termo “LAGARTA” é utilizado para designar o estágio larval dos insetos da Ordem Lepidoptera, da qual pertence a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis, Hueb., 1818). Quando falamos na Ordem Lepidoptera, estamos nos referindo às Borboletas e Mariposas que são insetos bastante conhecidos e facilmente reconhecidos pelas “escamas” nas asas que se desprendem facilmente ao serem tocadas (TRIPLEHORN e JOHNSON, 2011). É uma ordem bastante numerosa, sendo a segunda maior ordem de insetos (perdendo apenas para os Coleopteros), com aproximadamente 146.565 espécies catalogadas (BUZZI, 2013).

A lagarta da soja pertence à Família Noctuidae, a qual é a maior família de Lepidoptera com aproximadamente 35.000 espécies (BUZZI, 2013). Os noctuídeos são mariposas de corpo pesado, com asas anteriores um pouco estreitas e as posteriores alargadas (TRIPLEHORN e JOHNSON, 2011). Em sua maioria possuem envergadura de aproximadamente 3cm, tendo hábitos noturnos e atraídas pela luz (BUZZI, 2013). Estão presentes nesta família, algumas das mais importantes pragas do mundo, pois se alimentam de plantas herbáceas e muitas vezes essas plantas são cortadas junto à superfície do solo. Dentre as principais pragas de plantas cultivadas pertencentes a esta família podemos destacar: Agrotis ipsilon (lagarta-rosca), Helicoverpa zea (lagarta da espiga do milho), Helicoverpa armigera, Heliothis virescens (lagarta da maçã), Chrysodeixis includens (Falsa medideira), Spodoptera frugiperda (lagarta do cartucho), Mocis latipes (curuquerê dos capinzais), dentre outras (BUZZI, 2013).

A mariposa da lagarta da soja, possui coloração cinza, marrom ou bege, na maioria das vezes apresentando uma listra transversal escura ao longo das asas, unindo as pontas do primeiro par de asas. Na face inferior do segundo par de asas, apresenta pequenos círculos brancos, próximos na margem externa da asa. Ovipositam durante a noite, ovos individualizados e de cor verde claro, colocados principalmente na face inferior das folhas, mas também, nos pecíolos e ramos da soja (SOSA-GÓMEZ, 2014).

Cada fêmea tem a capacidade para colocar até 1.000 ovos, onde, cerca de 80% são depositados nos primeiros oito a dez dias de vida, tendo a longevidade de aproximadamente 20 dias (SOSA-GÓMEZ, 2010). As lagartas eclodem em três dias e passam a se alimentar de folhas. Na fase larval, passa por seis instares, onde as lagartas pequenas (até 10mm) geralmente apresentam cor verde e possuem quatro pares de propernas no abdômen, duas delas vestigiais, locomovendo-se medindo palmos (o que leva a ser confundida com a lagarta falsa medideira). Nesta fase (até 10mm), as lagartas raspam o parênquima foliar (SOSA-GÓMEZ, 2010).

As lagartas maiores do que 15mm podem ser encontradas tanto na forma verde como escuras e apresentam três linhas longitudinais brancas no dorso e quatro pares de propernas abdominais, além de um terminal (SOSA-GÓMEZ, 2014). A partir dessa fase (maior de 15mm), as lagartas conseguem perfurar as folhas. A fase larval tem duração de 12 a 15 dias, e as lagartas podem consumir cerca de 100 a 150cm² de área foliar, aproximadamente 96% desse consumo ocorre do 4º ao 6º instar larval, podendo atingir 40mm de comprimento (SOSA-GÓMEZ, 2010).

DANOS: Durante a fase inicial as lagartas raspam o tecido foliar. A partir do terceiro estágio consomem o limbo foliar e as nervuras, deixando pequenos buracos nas folhas, provocando reduções da área foliar e da taxa fotossintética. Em altas populações, se não houver controle, esse inseto pode provocar desfolhas elevadas (> 30%), causando perdas de produtividade da cultura (SOSA-GÓMEZ, 2014).


Manejo Integrado de Pragas em soja:
O MIP é um processo de decisão que permite ao agricultor gerenciar as populações de insetos na lavoura de forma harmônica, intervindo com controle somente quando necessário. A tecnologia do MIP foi introduzida no Brasil, na década de 1970, e tem sido aperfeiçoada constantemente (SOSA-GÓMEZ, 2010).
O MIP têm como princípios básicos:
A) Identificação da praga;
B) Limites de danos e níveis de injúrias;
C) Métodos de monitoramento;
D) Métodos de controle.


NÍVEL DE CONTROLE:


O monitoramento de pragas na cultura da soja é realizado através do método do pano de batida, descrito a seguir:
→ AMOSTRAGEM DE INSETOS – PANO DE BATIDA (1 X 0,50 – 0,60 m; 6 Amostras / 10 ha.)
1º) Estádio vegetativo: Tratar a lavoura quando o desfolhamento for cerca de 30% ou quando o nº de lagartas maiores que 1,5 cm for superior a 40 por amostragem;
2º) Estádio reprodutivo: Fazer o controle quando o desfolhamento se aproximar de 15% ou quando o nº de lagartas maiores que 1,5 cm for superior a 40 por amostragem;
3º) Controle de percevejos: Controlar os percevejos quando existirem vagens maiores que 0,5 cm até o amarelecimento das folhas, a partir de 4 percevejos maiores que 0,5 cm por amostragem.



Os métodos de controle preconizados pelo Manejo Integrado de Pragas estão baseados em vários fatores que podem interferir no nível de ataque das pragas à cultura da soja.
A) Controle cultural: Correto manejo da cultura, que vai desde à nutrição da planta, do manejo correto do solo, remoção de restos culturais, utilização de sementes certificadas, limpeza de máquinas e equipamentos, rotação de culturas, entre outros.
B) Plantas resistentes: Uso de espécies ou variedades de plantas que podem crescer e produzir apresar da presença da praga.
C) Controle biológico: O Uso de predadores, parasitoides, patógenos e competidores para controlar as pragas.
D) Controle químico: Uso de substâncias químicas ou defensivos agrícolas para matar ou repelir as pragas.

Segundo SOSA-GÓMEZ, 2014, conhecendo e monitorando, periodicamente, as principais pragas e os organismos benéficos e fazendo o uso correto dos métodos de controle disponíveis, o resultado será um bom manejo, com diminuição das perdas e dos custos de produção, melhoria da qualidade do produto final, redução dos casos de acidentes com agrotóxicos e uma maior contribuição para a sustentabilidade ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AIBA. Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. DISPONÍVEL EM: < http://aiba.org.br/> ACESSO EM 04/02/2020.
ARANTES, N. E., et al. Guia técnico de campo 01, Algodão e Soja, APSEMG, Belo Horizonte – MG, 174p. 1998.
BUZZI, Z. J.; Entomologia didática. 6. ed. Curitiba, PR. Ed. UFPR. 2013.
NAKANO, O.; MARCHINI, L. C.; BATISTA, G. C. Pragas da Soja. In: Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz - FEALQ (Ed (s).). Curso de Entomologia aplicada à agricultura. Piracicaba, SP. 1992. p. 387-410.
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Grãos: Manejo Integrado de Pragas (MIP) em soja, milho e sorgo. 1. Ed. Brasília. 2017. 72p.
SOSA-GÓMEZ, D. R.; et al.; Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. 3 ed. Londrina: EMBRAPA SOJA, 2014. 100p.
SOSA-GÓMEZ, D. R.; et al.; Soja: Manejo Integrado de Pragas: Curitiba; SENAR/ EMBRAPA-SOJA, 2010.
Tecnologias de produção de soja – Região central do Brasil; Sistemas de Produção 4; EMBRAPA; 1º ed. 2003. ISSN 1677-8499.
TRIPLEHORN, C.A.; JOHNSON, N.F.; Estudo dos insetos – tradução da 7º edição de Borror and Delong’s Introduction to the study of insects, Editora Cengage Learning, São Paulo; 809p. 2011.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

I Seminário de Sanidade Animal - UNIRB


Satisfação em poder contribuir para o evento... Parabéns ao Diretório Acadêmico de Medicina Veterinária do Oeste da Bahia (DAMVOB)... Estou à disposição sempre!!! Evento grandioso...

PALESTRA: Desafios da Gestão efetiva de grandes propriedades